As palavras, em seus sons, estão aqui em processo, se transformando, como esse texto, incompleto, que um dia terminarei. O papel virtual de minhas realidades, sendo escrito enquanto logo, meus dados, na máquina, na rede de rendas digitais. Nas ladainhas, aboios e encantamentos, sentimentos ou/e em outros infindos indícios analógicos, que sim, ainda existem! E resistem, a qualquer falsa ou equivocada idéia de modernidade ou tecnologia. Tome cuidado com os meus acentos.
Eles podem brincar de mudar seus sentidos.
Estamos subentendidos?

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O que lhe fiz sentir


Minha vinda aqui
Foi pra te encontrar
Te encantar, te conquistar, é levar...
Mas, uma pequena solidão veio e ensinou-me
Com aquele mesmo carinho com o qual você me abraçava

Uma estrela no céu do sudeste
O silencio ritual que me deste
Pra pensar melhor
E cantar as coisas que não falo.

Eu que já estive pior
Hoje tenho tua lembrança ao menos
Tenho tua esperança ao menos.
Recordo da tua bagunça na hora de amar
A inquietação das perguntas.

O que lhe fiz sentir
O que me dei a ti

Como o meu cheiro te marcou
Como o meu beijo te desarmou
Como minha existência te afetou
O amor que te seqüestrou e devolveu
A um mundo que não mais era meu

Tua voz e palavra recriando tudo o que existimos

Devagando


A impressão que tenho
É que tudo está diferente
Não distinguo o que se coloca como antigo ou recente
Uma ênfase à um suspiro inesperado
Sabia e propicia oportunidade
De dramatizar minhas perceopções

Em meu peito
Não há mais espaço pra esses interlúnios
Inexplicável forma de se permitir
Que nos conscientizemos de nossos sonhos
E sua importância.
Vago, vago nesse vago vagão de rostos inertes
Círculos isolado de distintos e solitários desejos,
Todos num coletivo, porém
Desolados de qualquer pensamento em comum
Eu aqui e você aí, ao lado um do outro
Em universos paralelos que criamos
Com a anti-matéria dos fugidos olhares fingidos
Em nossos infinitos particulares

Em meu céu eu sou a lua
E teus raios solares chegam mim
Tocando meu rosto
Mas como você não se toca
Eu mingüo.

sábado, 18 de outubro de 2008

Estação


Esperamos tanto...
Saudosistas
Com as imagens da infância nos acompanhando
Num devaneio sonoro de fim de tarde
Os vagões reverberando no encontro dos trilhos

Chega um momento em que não importa mais
A tristeza que errante se entrelaçando
Seguia a vida aparentemente contente
Entre os bons dias que escapavam da prisão dos dentes
E as automáticas respostas de "tudo bem".

Mas hoje meu bem
já nem leio ou escrevo em coletivos
Nos movimentos sinuosos de idas e vindas
Já não sou mais apenas aquilo que penso
Sou aquilo que sôo, pronuncio, exponho...
Tudo mudou
Quando você me ensinou a falar cantando

Nas linhas férreas de meu destino
O Trem enfim voltou
Por mim passou e me atropelando
Esmagou meus planos
A vida me feriu em toneladas de sonhos (de aço) sobre mim

No turvo céu do sudeste uma solitária estrela brilhou
E me espiando cintilou uma saudade

Eu estava ali, entre os mundos
Esperando uma passagem pra outros planos
Porque enfim, o trem voltou e passou por mim.
Na estação, me atropelando.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O compasso dos meus passos

Tenho meu ritmo
Quem quiser me acompanhar
Que siga em meu andamento
Seja na desconstrução de sonhos
Ou mesmo nas ruínas da fé

Tenho pulso e argumentos
Para qualquer desilusão que se coloque
Entre eu e minha tristeza!
Deixem-me!
Deixem-me morrer aos poucos
Como os loucos, os poetas
Sentindo tudo o que devo cantar ou calar mas não posso.

Só assim renasceria
E cresceria, sem elogios pra alma
De karmas superados
Na estupidez vencida dos anos
Entre estios e chuvas de meu peito

Compondo o passado
Vivendo o processo dos dias infindos
Só.
Sozinho
Como tiver de ser, ou não
Não mais existe questão
Respondi as minhas duvidas pra mim mesmo
Em silêncio
Nos idos anos em que estive fora de mim
Ou dentro de mim
Perdido

Enfim, caminho.

Seguindo em meu andamento
Quem quiser me acompanhar
Que descubra meu sentimento.

Interpretando


Roubarei seus mitos
Vestirei as mascaras de seus ídolos

Revestirei teu corpo de mim
E assim, serei teus sonhos não realizados

Teus medos transparentes
Transpassados
Transmutados

Tu me odiará
E me adorará
Sem diferenciar
Fé e descrença

Porque eu te darei minha cena
E esta não será uma participação pequena! Não!

Na nossa banda de cá do mundo
Não serão feitas marcações
Não serão lidas partituras

Sentiremos a dura vida
E improvisaremos

E nos tocaremos
E tocaremos

Da forma que quisermos!

Eu nunca lhe disse
Que só acredito no que toco
Que só interpreto o que vejo
Allegro-me
Presto atenção no que faço
Mas não me prendo aos compassos
Da canção entre minha voz e teu beijo

Amanhã outra dança


A noite segue em seu curso de sonhos
Como um rio de águas barrentas e revoltas
Fio-me em minha humilde morada
Ao som do canto fortuito dos pássaros
Melodias madrugais cruzando o espaço tempo.
Entre novelos de estradas-labirintos
De uma arredia chance sincera
Reinvento contos de uma primavera inesperada
Ansiando uma manhã de olhos alquebrados e ofuscante luz!
Em plena meia-noite.

Uma estrela me conduz, e é assim que sigo...
Um dia após o outro, absorto, lúgubre, Ferraz e tênue!
Absurdamente despreparado pra outra tarde
De cafés e diálogos prósperos
Uma vida inteira
Em segundos
Debulhada como um terço, e uma cega fé em nós mesmos
Pra todas as nossas novas possibilidades
Encantando futuros
Escrevendo-lhe versos
De um entendimento momentaneamente delicado
Quem sabe depois, sentindo?!
Sentimentos, ressentimentos?!...
Tempo pra pensar
“Horações” pra antes de dormir e sonhar!

Amanha é um novo dia.
Hoje agora é aqui.
Amanhã outra dança.
A existência
Esperança

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Caboclo de Asas

Sigo a voar pelo mundo
Acompanhando o sol
Num eterno meio-dia

E no espaço de sonhos
Onde as poesias do tempo
São de minha autoria

Pouso no Araripe
E ao aterrissar nos olhos
Cariri que sôo
Logo me toco!
E te realizo.

Minha artesã-nata-canção
De terra, semente e esperança
Adivinho o que virá pela frente
Como um ritual de pajelança

Logo te toco
E me realizo...

E então somos verdade
Num transe
Anunciada
Escrita e cantada

A duas vozes e quatro mãos
Beijos ofegantes de paixão
Minha centelha da Mãe D'água
Envolvida em capuchos de algodão

Sou um caboclo de asas
E minhas palavras de fogo
São profecias Cariris
Varando a tristeza
E a maldade do mundo

Realizando-nos!

domingo, 5 de outubro de 2008

Ethereos

O que faz de nós seres humanos?
Qual'a essência que nos torna ethereos?
O espírito, a alma? O raciocínio, a consciência?...
Tantos corpos sem idéias que vagam vazios
Sem um mínimo de paixão, ao menos, que lhes preencha
Sendo assim, não ha ciência, nem magia
Não ha poesia
Nada que nos guie em alguma verdade.
(Mesmo pra quem não acredite ou queira alguma)

Olho as estrelas.
Tento desenhar nas constelações
O que poderia ser do alem-céus
Navego meus desejos, sem beijos, sem abraços, sem sexo
E não encontro entre meus versos, algum nexo que eu possa cantar
Assobiar, ritmar, harmonizar.
Lapidar.

Parece um velório
Porém, sem choro nem rezas
Pêsames ou incelenças
Meus sentidos estão mortos
As vezes quando tenho fé, creio em Deus, e peço que impossivelmente
Como num passe de mágicas
Um milagre aconteça!

Até onde será possível
Fugir os olhos pra um futuro qualquer
Perdido entre nossas tantas procissões?
Meu manto azul e branco, a cruz e o rosário
Meus cabelos e barba voando num vento cósmico...
Arrastando meu juízo e me trazendo delírios
Com os quais em transe rogo:

-Minha senhora!
Uma esmola de inspiração!
Pelo amor de Deus!
Qualquer sentimentozinho me serve!
Por caridade, ajudai esse irmão seu!
Que pena, que pena
Sem um amor em seu peito!

Não tenho fome
Não tenho sede
Não tenho nada
Alma sem corpo, desenganada.

E assim como o vazio do mundo
A falta de amor nos corações
As palavras ditas sem um cuidado pequenino que fosse!
Sonho pra que versos ressuscitem
E que tragam paz pra os que aqui habitam
Entre uma e outra eternidade que transponha limites
Da vida ou da morte que nos tocam incansáveis
Somos instrumentos conscientes de nossa liberdade
Então porque sempre nos isolamos?
Existe uma imensidão de veredas infindas
Cruzando nossas idas e vindas
Não podemos continuar como estranhos
Perdidos nesse universo em expansão!

Se o que vejo são duvidas no coração
O que posso fazer, então
É sofrer, seguir, viver
Com as certezas cegas da razão?!

Sem fome
Sem sede
Sem nada
Alma sem corpo, desenganada.

Solidão.