As palavras, em seus sons, estão aqui em processo, se transformando, como esse texto, incompleto, que um dia terminarei. O papel virtual de minhas realidades, sendo escrito enquanto logo, meus dados, na máquina, na rede de rendas digitais. Nas ladainhas, aboios e encantamentos, sentimentos ou/e em outros infindos indícios analógicos, que sim, ainda existem! E resistem, a qualquer falsa ou equivocada idéia de modernidade ou tecnologia. Tome cuidado com os meus acentos.
Eles podem brincar de mudar seus sentidos.
Estamos subentendidos?

sábado, 29 de agosto de 2015

Como Não se Diz

Meu espírito se balança 
Fita o céu
E num dervixe
Em centrífuga dança
Se lança no vácuo
Despido do corpo
Numa forma ancestral 
Essencial
Se divide em quatro
Direções-estações 
Em sete forças
Em luz e sombra
Em todas as cores
Em doze tons 
No espaço tempo 
E eterno sonho
Retorno a mim mesmo 
Numa sensação de poesia
E penso nisso
Mas antes de tudo
Sinto um pouco o universo
De onde vim e parti
Onde chegarei com essa conversa?
Nesse monólogo-diálogo
Me falta a palavra
Como explicar 
O que não tem pronúncia
Nem estável padrão vibratório?!
No mínimo,
O máximo que posso
É bem-dizer
Como se diz,
O que não se diz
Se canta

Cadeia Elementar

O que nos tornaria heróis?
Ou vilões?
O que faz de nós
Bons e maus
Jogadores
Campeões
Perdedores?
Predadores
Caça ou caçadores?
Mártires sonhadores
Ou carrascos ditadores
Símbolos de fé
Ou descrença
O que nos pode salvar
Ou condenar?!
Qual a diferença
A relação
Entre amar
Ou odiar?
Cantar vitória
Ou silenciar
A derrota
A paz
A guerra?
Os conflitos de dessa terra?
O livre arbítrio que nos prende?
O pensar?!
Ao pensar
Logo existo
E insisto
Sonhar
Acho que estou
Tendo a certeza que sou
Um desconfiado escritor
Acidentalmente tecendo 
Sobre o que poderia estar nos fazendo
Mudar de lugar na cadeia elementar

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Bel Desejos

Sinta-se amada
Mesmo em meus desavisos
Mesmo nas canções silenciosas
Ou no som de minha ausência 
Sinta-se amada
Mesmo em minha poesia acanhada
Em sete chaves guardada
Em meus caderninhos adolescentes
Sinta-se amada
Mesmo quando meu amor fosse inconsequente
E em outras bocas beijadas
A tua lembrança invadir em línguas e dentes
A alheia saliva como terceira pessoa sagrada
De uma santíssima trindade adorada
De minha fé apaixonada, inabalada
Por minha humilde humana
Saudade carente

Mapa Celeste

Tu sabes meu signo
Mas ainda há
Todos os mistérios
Do meu ascendente

A paixão

E a paixão
Feito uma égua louca
Numa dança suicida
Ou um elefante alado
De asa partida
Salta de um abismo
Sem se preocupar
Ou acreditar
Que cairá na realidade
Se despedaçando
Ou sofrendo um surto de realidade
Achando que o romantismo
É um sonho tolo
Dos que não sabem amar

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Movimento Apaixonado

Quando o corpo dança,
Movimenta-se apaixonado,
Todos em suas voltas
Entendem o bailado
Os ventos, os raios do sol,
O vestido alvoroçado, o cabelo esvoaçado,
Até os olhares mais repressores
Se entregam a poesia do momento
E a arte se faz do experimento
Desafiando à gravidade
O espaço-tempo
O deslocamento-
saudade

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Paralelos Infinitos

Na confusão dos sentidos
Os sentimentos se confundem
Os pensamentos se iludem
O coração bate desincronizado com o corpo
O espírito irradia pulsos ao infinito

E dos desejos da última noite,
O que terá sido? O que ficou desestabelecido?
Desestabilizado? Quais tonalidades e harmonias
Prevaleceram ao acordar nos suados acordes?
Por onde se expandem aquelas melodias
Cantadas desde o último beijo?
Um poeta hoje aqui escreve
Na lembrança do teu sobeijo
Aquele agridoce gosto
Na língua que te percorreu o corpo
E te floriu sorrisos ao cruzar o pescoço
Os sabores continuam aqui
E agora como jovens apaixonados
Compomos e deixamos esse recado
Pra os enamorados que virão depois de nós

Mesmo em nossas maiores solidões
Nunca mais estaremos a sós
As lembranças
Nos acompanharão
Pelas pequenas eternidades
Selando amizades
Permeado amores
Que se conjuguem
Injulgáveis

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Composição

Chame
Pode ser um grito
Pode ser um silêncio
Mas que seja canto
Sopre-me um amor
Uma saudade que seja
Sussurre-me ao pé do ouvido
Um sorriso flauteado
Um desejo harmonizado
Compondo carinhos 
Em todos os sentidos

Na Sua - Luz da Tarde

De repente penso
E em alguns milesegundos
Na velocidade em que um romântico neurônio
Leva pra seguir do peito, passando pela mente
E chegar até o céu da boca,
Sinto a palavra, preparo a voz, e a entôo
Trazendo em si, ela em mim
Todo o sentimento
Todo o apuro dos anos

Pronuncio o seu nome
Com a força e delicadeza necessárias
Em música, canto essa melodia, e faço uma pausa
Deixo reverberar no vento a poesia do que lhe sinto

Assim como na literatura
Como na música
Como no teatro
Faço uma cena
Cinema
O corpo dança no movimento do desejo
E toda a minha humilde arte fica em função
Da paixão
Lhe agradeço
Não apenas pelos beijos, pelos fluidos
Pela energia, pelas filhas e filhos
Pelos sorrisos e abraços
Pelos aprendizados
Pela inspiração

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Balé

Não se carece palavras
Quando o corpo dança
O diálogo vai além das línguas
E a voz se liberta da garganta

Pra que falar
Se o corpo canta?!
Nem se precisa dizer
O que nos encanta

O corpo gira
As pernas baiam, sambam
As mãos se esvoaçam no tempo
E o peito pulsa vida e sorte
Numa ritmia quântica

O amor fica indizível
Num balé-poesia tântrica
E num transe de pequenos silêncios
Sinto e sentes quem te ama
Quando os poros se dilatam
E tua pela untada derrama
Essa ofegante poesia dinâmica
Que te percorre o suor do corpo
Até o nosso último beijo adormecido
A manhã, em nosso primeiro sonho
Vindouro

terça-feira, 4 de agosto de 2015

O que eu Faço?

O que eu faço? 

Faço e desfaço música sertaneja
Superior incompleta
Popular erudita?
Universitária, analfabeta, mobral 
Empírica talvez, real, ralé, virtual
Elétrica, eletrônica, orgânica
Biosustentável, permacultural 
Nem antiga nem moderna
Apenas música contemporânea do vento 
De ritmo atemporal e lugar além do espaço
E a gravidade feito melodia
Não me prende ao chão
A minha canção
Desafia as leis da harmofísica
Pinota, avôa, rodopia
Ousa ser cosmopolita
Minha matuta urbana poesia
E o meus alquebrados versos
Atrevidos sintetizados distorcidos
São minha coloridas asas
Anjo-caboclo terreiro
Carrego minha anacruz de estrada
Daqui pra baixo só com amor
Daqui pra cima
Tudo é via-láctea