As palavras, em seus sons, estão aqui em processo, se transformando, como esse texto, incompleto, que um dia terminarei. O papel virtual de minhas realidades, sendo escrito enquanto logo, meus dados, na máquina, na rede de rendas digitais. Nas ladainhas, aboios e encantamentos, sentimentos ou/e em outros infindos indícios analógicos, que sim, ainda existem! E resistem, a qualquer falsa ou equivocada idéia de modernidade ou tecnologia. Tome cuidado com os meus acentos.
Eles podem brincar de mudar seus sentidos.
Estamos subentendidos?

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

CAMINHOS

Seguindo o trajeto de minha infância

Na estrada de ferro

Entre o Crato e o Juazeiro

Gonzagueando, eu vou e faço

Um blues pra o meu bem.

Ao descer eu a levo.

Na primeira-ultima estação

Começa a neblinar

O vento sopra carinhosamente

E recebo uma mensagem de amor

Mas não era uma mensagem comum

De um querer qualquer

E mesmo que fosse de qualquer amor

Qualquer forma de louvor

Ja seria uma bela forma de religião,

De inspiração pra seguir cantando.

Dançando com a orquestra estereofônica

Nos meus fones de ouvido

Assim, abestalhadamente

Me pego sorrindo pra o tempo

E vejo na paisagem teu rosto

E se isso não for uma poesia divina,

No mínimo, as divindades estão de prosa comigo, e isso é espiritualidade.

E como num filme francês

Numa composição que transcende Caetano

Eu te respondo a mensagem

E na próxima cena

Já estamos juntes

Celebrando a vida

Falando de ciência e magia

Arte e política

E não há distância

Ou desamor inventado

Apenas um abraço

Tão verdadeiro, tão maior

Que qualquer descrença

Desavença

Ou vazio

Discurso de ódio.

Preenchemos a vida

Com amor





Casamento

Até que a vida nos repare

(Em sua dinâmica)

Até que o amor nos separe

(Em sua completude)

Até que a separação nos una

(Em sua liberdade)

Até que o ódio nos ensine

(Em sua transformação)

Até que a morte nos ampare

(Em todo o seu mistério e inevitável fim)

Até que Deus nos funda

(Na imatéria da espiritualidade)

Até que o tempo nos encante

(Numa só existência orgânica)

Até que a poesia nos refaça

Como minério de pó de estrelas

Na vida inorgânica

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

ESTRADA

Não siga na linha
Faz a tua trilha
Sem se importar
Seja reto ou torto
Estação ou Porto
Terra, Céu ou mar

Olhe pra trás
Mas siga em frente
Entres flores e espinhos
Não importa o destino
A partida ou a chegada
O que importa é o caminho
A estrada

sábado, 1 de outubro de 2022

À Noite

Eu sei o que excita

O que te apaixona

E que te aflita


Eu sei o que te envaidece

O que te apetece

O que te irrita


Eu sei o que te enfurece

O que te dói

O que te grita


Mas teu amor é confiança

É cuidado

É aliança


Venha cá

Vou aí

Pra te alegrar

Pra te ver sorrir


De tudo o que podemos ter

Nada é mais belo


Fica tranquila

Mesmo que eu vacilasse

Que eu tropeçasse

Que eu caísse


Eu sei que você sabe

Eu sei que você sabe

Eu sei


Que a tua voz ressoa em mim

Como o clarão da lua

A luz da alvorada

Como o vento na calçada

Varrendo as folhas

Como o suspiro na madruga

Desabrochando a noite

Em nossa caminhada


Dorme bem, meu bem

A canção nos acalentará 

A poesia nos libertará

Como anjos dos Campos Ricardos

Nas cores que nos convém

Os juazeiros nos protegem

Aliviando os nossos fardos

Para sempre, amém

terça-feira, 14 de junho de 2022

Brinquedo

Colorir os dias

Com poesia 

Viver os ciclos

Da natureza

Com maturidade

Na esperança

Que só é plena 

Quando a criança

Que há em nós

Desata a brincar

Preenchendo os sonhos

Com sorrisos divinos

Toda a algazarra que couber 

Nos jardins desse mundo

Sempre prontos

Pra renascer

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Consciência

Na busca por algo leve
Nos deparamos
Com o peso das coisas
O tempo
A gravidade
O espaço curvando-se
Em seu objetivo destino
Cíclico e eterno

A poesia poderia mear-se
Densa ou niilista
Mas porque trazer
Certezas herméticas?
A luz viaja a qualquer
Lugar que a receba
Trazendo todas cores
Impossíveis

Porque não enfeitar o trajeto
Com flores e canções?
Porque não dançar
Enquanto se caminha
Ou mesmo aguardamos
Uma próxima decisão de trajeto?

Respiro
Encho os pulmões e canto
Nada está vazio
Tudo é impressão
E depende do que decidimos
Enquanto vivemos
O vazio
É um lugar cheio
Basta abrir os olhos
Ficar de pé
Soltar a voz
E sentir o vento
Mudando

sexta-feira, 13 de maio de 2022

Noturna Solitude

A noite me tranquiliza
Mas nem sempre
Ao ponto de dormir
Ou simplesmente descansar
Sonho acordado
Com a claridade das horas
Alvoroçando minha ideias
A gravidade
Pesa meu corpo a cama
Que sustenta o chão
Mas minha alma não
Ela canta, pula, dança
Faz poesia, amizade
Com as sombras que me cercam
E que rodopiam na escuridão
Com a luz que adentra o quarto
Pelas frestas da janela
Converso, brinco, faço canção

sexta-feira, 22 de abril de 2022

No Coração de quem Canta

No coração de quem canta
Há sempre um sentimento alheio
Um grito de empatia

Na voz de quem canta
Há sempre um silêncio
Revestido de canção

Em todo silencio
Há sempre uma voz que ecoa
Tocando o horizonte
Além dos céus em enumbramento
Mesmo em dias cinzentos

Nunca nenhuma arte será atoa
Enquanto houverem
Silêncios a serem cantados
Muros a serem pintados ou derrubados
Corações a serem libertados
Espíritos carecendo de rezo e poesia

Antes dos Muros

Esses muros
Ja foram cuidados
Rebocados, pintados
Por necessidade e delicadeza
Entre essas paredes houve amor
Mistérios expostos
Segredos guardados
Entreparedes

Havia proteção, medo
Liberdade e posse
Ganchos de rede

Desenhos de crianças
Desgastes do tempo
Banhos de chuva
Raios solares
Brandos e violentos
Sopros de ventos

Canções que batiam
E se dissipavam
Em seus relevos

Hoje tudo isso é poesia
Mas antes?
Quando não haviam muros
E reinava sem barreiras
A vastidão sem cercas
Da natureza
Seria a pré-história
Da beleza?
A alegria a dor e a morte
Dos que habitavam
Essas redondezas?

O que dizer acerca
Dos não-muros
Do que aconteceu
Antes das paredes?

A quem pertenceu (pertence) o chão
O solo - a matéria prima
Desses tijolos?
Quem os fez?
Que mãos
Que vidas
Pagaram
Por essa
Tez