As palavras, em seus sons, estão aqui em processo, se transformando, como esse texto, incompleto, que um dia terminarei. O papel virtual de minhas realidades, sendo escrito enquanto logo, meus dados, na máquina, na rede de rendas digitais. Nas ladainhas, aboios e encantamentos, sentimentos ou/e em outros infindos indícios analógicos, que sim, ainda existem! E resistem, a qualquer falsa ou equivocada idéia de modernidade ou tecnologia. Tome cuidado com os meus acentos.
Eles podem brincar de mudar seus sentidos.
Estamos subentendidos?

sábado, 27 de outubro de 2007

A palavra doce.

Como posso saber o gosto de algo que não degustei?
Posso ler teu sabor?!
Colocar vírgulas em teu perfume desnudo?
Acentuar um desejo na forma visível de uma paixão?
Ando escrevendo com pétalas na língua
Nos olhos, as cores de tua relva
E tudo que escuto é um absurdo de instintos gritando
Teu nome, sentido.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Oremos

.
Quando ouvia tua voz em mim, te imaginava diferente
A cor de tua pele, dos olhos e cabelos
Até então conversávamos no escuro...
Inocente, ainda criança, ao entrar na tua casa assustei-me.
Mas ainda guardei a esperança
O que ficou pra mim, durante anos, o silêncio?
Tiveste a mesma decepção que a minha?
O que posso esperar de ti no meio tempo de uma existência?
Outra semana santa?
Lá do alto daquele monte de sonhos
Tua estátua gigante faz sombra em nossa terra
Porém mais amedronta que acalenta meu povo
Ao redor, nos vários pátios e praças, vazias
Igrejas e imagens sem ideais, apenas dízimos, nada mais.
Não me encontro mais assim, no mínimo tenho uma desilusão
Apenas um Deus Branco. Mas eu sou filho de tantos, tantas...
Sinto muito. E de tanto sentir
Na dúvida, hoje
Minhas orações são pra o vento
O fogo, a água, o ar.
A natureza é meu lugar sagrado
A fé, uma menina, que caso cresça ao se tornar mulher
Poderá escolher ser o que quiser.
Esses templos não me servem mais
Podem até servir pra os mortos, essas paredes, essas velas
Mas que triste esse fim. Não o quero pra mim.
E nós, se estamos vivos,
Existe uma outra opção?

Creio, nos reste, como uma luz,
As canções, as danças, essas candeias
O sagrado que existe em nós.
Eu profano a ignorância.
Cantando e dançando em louvor a vida viva.

Aí sim! Com o tempo,
Até que a morte nos una,
E a terra nos ampare
E renasçamos,
Evoluídos,
Poderemos vislumbrar
Desfrutar
De poesias simples como a paciência das pedras
E sabedoria das árvores

Nessa mesma vida...

Eu tão pouco me ofereço um descanso
Uma solidãozinha de entreamor
Um momento para minha autodescoberta
Que você já me re-volta com esse cheiro de desejo por mim!
De-me um tempo, deixa-me ecoar por uns instantes num infinito sozinho
Quem sabe eu não me retorne real?
E ao nascer do dia meu rosto de sol
Beije tuas faces com uma ponta de luz entre os dentes
Numa sutil fração de horas em que a manhã
Nos seja eterna e sem limites
Como os amores impossíveis que se sustentam
Perdidos sem melodia, ritmo ou harmonia!
Minha querida, espere um pouco!
Precisamos seriamente cantar, declamar, sorrir...
Quem sabe até chorar um pouco, sofrer?!
Eu tenho uma leve impressão que já vivemos isso nessa mesma vida...
Não em outras.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Espessos

Hoje talvez eu realmente esteja espesso
E meus olhos, e um pouco dos outros sentidos,
Abstraiam esses sentimentos
De qualquer jeito, inevitavelmente,
Eu falo de tudo isso quando canto
E de uma forma ou de outra
Sempre acabo me tornando essa verdade.

É assim que interpreto
As cores refletidas
Em teu corpo (e movimento) nu
Investida em trajes de ensaio.
Agora é assim...

Um dia esse seu discurso muda...
A rima falta
Essa sua culta palavra se inculca
E vira baião, frevo, poesia!
Dançando como achar que deve!
Sem se importar.

Fantasia

A tarde cochila com uma leve cor de nostalgia
E nas insígnias fornidas pelo sol em minhas lembranças
Um delicado desejo de brincar no céu
Fez-me reacreditar nas coisas simples,
Pequenas aos olhares mais desatentos.
No fantástico mundo dos sonhos realizados
Eu fui criança e hoje conto histórias verdadeiras
Do mundo que inventei, da princesa que roubei
Da espada que ergui (pra proteger-la)
Das canções que fiz (pra louvá-la)
Dos inimigos que venci (pra conquistá-la)
É assim que vivo o meu presente
Sempre crente em tudo o que não sou!

Na realidade

É tudo um sonho.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Inércia

Em minha boca tua ausência tem um gosto presente
Sabor de poesia recitada a luz de velas
Incenso e carinho num absurdo de lembranças
Eu quem o diga, nessa minha distância alada
Sem força nem coragem de saltar
Sem voz nem melodia pra cantar
Estas palavras aqui estão, sem sentido.
Perdidas, em um plano que não é conspiração
Vagando num universo sem tridimensão
Inúteis sem diálogo ou reflexão
Sem valor pra quem compra idéias
Oração pra um deus ninguém
Ficção
Mentira sem intenção
Ou necessidade