As palavras, em seus sons, estão aqui em processo, se transformando, como esse texto, incompleto, que um dia terminarei. O papel virtual de minhas realidades, sendo escrito enquanto logo, meus dados, na máquina, na rede de rendas digitais. Nas ladainhas, aboios e encantamentos, sentimentos ou/e em outros infindos indícios analógicos, que sim, ainda existem! E resistem, a qualquer falsa ou equivocada idéia de modernidade ou tecnologia. Tome cuidado com os meus acentos.
Eles podem brincar de mudar seus sentidos.
Estamos subentendidos?

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Segredos


Tinha uma coisa aqui
Guardada
Num lugar que nem era tão secreto
Um lugar que talvez nem fosse tão meu
Mas só você sabia do seu valor pra mim
Não queria te acusar
Mas acho que foi você
Que talvez até sem querer
Entrou no meu peito sem bater
Talvez até quisesse me surpreender
Se arrepender
Me arrebatar com um beijo
Me marcar
Com um desejo em sonho
Que acordado não se realizou

Mas então,
Aqui chegamos por outra questão
Tinha uma coisa aqui
A sete luas no meu coração
E alguém levou, tirou, roubou
Arrancou de mim
Sem pronunciar os versos da alta magia
Que à noites e dias me protegiam
De me desencantar
Por alguém que não merecesse
A alma cantante do meu olhar

E só você
Que sabia e compreendia
Pra que serviam as absurdas palavras
Que eu desvendara em tantos amores
E que guardara com tantas dores
Ao confessar o que eram de certo
Pra mim, pra ti, pra nós
Os mil segredos dos nossos lençóis
As profecias da dança de nossas mãos
Percorrendo em silencio a poesia rasgada
Marcada em nossos corpos
Em chamas veladas
Com palavras proibidas, perdidas,
Como nosso povo Cariri

Ai! Minha mãe, menina, mulher
Senhora das águas
Por mais que essa vida me maltrate
Nunca deixarei de cantar e sorrir
Nossos filhos então irão ressurgir pra re-ensinar
O mundo a sonhar
Sem precisar dormir

Tinha uma coisa aqui.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Folguedos


No movimento dos teus olhos
Procuro um lugar pra sorrir
E dançar e cantar
E brincar e sonhar
Sem fingir

Você escondeu-se
Onde eu mais procuraria
Só pra que eu te encontrasse
E assim escutasse,
O pulsar do teu peito
Tua respiração
O som dos teus neurônios em ebulição

Esse jogo de inércia e ação
Folguedos, versos e trupés
Dando-me um ritmo inesperado
Pra que eu me re-componha recompensado
Com o momento encantado que me deste
E te-ser um futuro conjugando carinhos
Uma canção...
Essa canção!
Que não é mais de solidão.
Ao menos!
Eis da palavra, o poder!
Uma pecinha de improviso
Embaixadas que declamo pra você.

Entoando divinos
Nos vejo crianças, alvoroçados
Zabumba, estalos de chicotes, reisados
Em dia de quilombo
Tu se escora em meu ombro
Temendo os mascarados

Eu me viro de repente
Te roubo um beijo inocente
E me vendo adulto novamente
Recordo nosso amor em um segredo

Nunca deixei de estar aqui
Em qualquer lugar
- Aqui
No mundo
- Aqui.

No movimento dos teus olhos
Onde encontrei um lugar pra sorrir
E dançar e cantar
E brincar e sonhar
Sem fingir

Andante


Não encontrei a fonte de minhas palavras
E descrevia toda e qualquer forma de pensamento meu
Seguindo com os olhos cansados e essa sede de idéias

Incandescente

Andante

Os sentimentos me subiam a cabeça
Vinham não sei de onde
Talvez da terra que pisara
Agarravam em meus pés
Como a densa lama do Rio no verão
Da poeira e das chuvas em que, não sei não!
Vinham não sei de onde
Talvez do ar que eu respirara
Penetravam em meus pulmões
Rasgando os restos de solidões
Que a fumaça da juventude deixara

A barra pulsante da paisagem desenhando as letras
Hipnotizou-me, dominou meus olhos
Que das idéias pras mãos em sentimentos
Reafirmava o triste indicio de estar só

Eu escolhi esse destino
Não me arrependo dos “nós” que desatei
Pra não dar corda a saudade
Meu silencio é um ritual sagrado
Como o teu divino olhar estático

És a santa do altar dos meus delírios
Minha fé cega que enxerga a áurea dos encantados

Ser de luz das minhas noites
Estrela maga dos meus céus
Mesmo nas dimensões mais distantes dessa vida aqui

Eu tenho você em meus entre-sonhos
Dançando nas chamas das fogueiras onde acantono
Aquecendo-me, ao preparar meu alimento sagrado

Rezo pra que as manhãs vindouras não sejam apenas ilusões
Descanso meu corpo esperando que minh’ alma também o faça
Porque daqui pra frente tudo é futuro.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Auto-Retrato


Pra desenhar em mim qualquer forma de desejo
Bastam-me esses olhos, traçando uma forma de dizer que o beijo
Vai pintar o futuro numa profecia rabiscada com a dança das tuas mãos
Os versos em questão, os tons dos sons e das cores
Os amores, as solidões, tudo vira flores reverberando sensações
Tentando apenas dizer, que o que se pode fazer, vai além do corpo
Escorre pelos poros, se esparramando pelo violão e pelas telas

Escrevemos, entoamos, desenhamos e sonhamos!
Que simplesmente o mundo possa ver um pouquinho de nós
Como nunca nos imaginamos
Bastam-me esses olhos, que me fitam e dizem tudo
Não preciso mais imaginar algo que não pudesse ser
Uma obra prima, irmã, mãe, avó, todas em uma só você
A mulher que me seduz
Por sua grandeza e complexa simplicidade

Mostre-me o que vem dentro de ti
Através da poesia dos teus dedos
Eu te cantarei meus segredos
Mesmo sem poder esperar
Que me fale dos seus medos
Viverei a tentar ler e traduzir
Através do que reluzir
Inevitavelmente dos teus auto-retratos

Tudo o que posso fazer é te sentir
O resto é incolor
Um ensurdecedor silêncio
Quando calo
















* Fotos e arte de Rebecca Gaillac

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Com-plexos de imortalidade


Em meu destino de astrólogo
Em meus sonhos de estrelas
Sobrevoando os além-céus
Transpassando fronteiras dos sentimentos mais longínquos!

As cantigas guardadas pra essas horas
Dadas as saudades,
Os suspiros falando em mil palavras
Mais que tantos olhares pra o firmamento dentro de nós

Enquanto eu não avistar a lua em teu horizonte
Não poderei seguir em frente
Aguardo que essa noite esteja limpa e que eu possa usar tudo o que aprendi e sinto, pra nos guiar pra uma nova vida, um novo mundo.
E que a magia tenha seu espaço nessa existência, os astros, os elementos, os espíritos, a ciência
A essência que perdemos no limbo da ignorância, arredia ao bem, as coisas boas dessa, e de todas as vindas em que nos encontramos e nos perdemos e nos desencontramos e nos desentendemos, e entendemos e adiamos a eternidade.

Com-plexos de imortalidade?!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Entendendo-se

Enquanto eu não souber te ouvir
Não mais te falarei
Não mais te deixarei sem graças
Não mais te roubarei as palavras
Antes de serem pronunciadas

Não existe sentido assim
Ambos mundos mudos!
Devolva o meu silencio de trovão
Em seu doce áspero e cortante som de rabeca.
Eu devolverei tua ladainha
Tua voz entre abismos de orgulho, cega

Devolverei todas as flores numa chuva de fim de tarde
As poesias recitadas, nunca escritas
Devolverei tua ingenuidade
Devolva a minha, a vontade
De seguir sem rumo!