As palavras, em seus sons, estão aqui em processo, se transformando, como esse texto, incompleto, que um dia terminarei. O papel virtual de minhas realidades, sendo escrito enquanto logo, meus dados, na máquina, na rede de rendas digitais. Nas ladainhas, aboios e encantamentos, sentimentos ou/e em outros infindos indícios analógicos, que sim, ainda existem! E resistem, a qualquer falsa ou equivocada idéia de modernidade ou tecnologia. Tome cuidado com os meus acentos.
Eles podem brincar de mudar seus sentidos.
Estamos subentendidos?

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Arpejos de luz

O que fazer pra te desconcertar?
Como arrancar de ti a melodia dos teus poucos e tímidos sorrisos?
Eu te canto, mas tu sempre me tocas assim tão séria...
Re-quebre o andamento das coisas
Os meus olhos seguem tua direção!

Deixe-me ser uma extensão de teu corpo sonoro
E vibrar na tensão de um desejo
Alheio a tudo o que se passa em primeiro plano
Os arranjos, os jardins
As flores de teu vestido de cetim

Ouço atentamente
Uma orquestra perdida em teu jeito descontraído
Me observando com o pensamento,
Com um sentimento
Que te musicou em mim

Nunca mais esquecerei
As cores que teus sentidos me deram
Enquanto tingíamos novas canções dentro de nós
Sustenidos e bemóis
Em nossos corações
Relativamente apaixonados

Dois sons pra um mesmo nome
Não é tão simples assim! Que fosse, não importa!
O que agora me consome
São os intervalos que existem entre nossas harmônicas diferenças

Na tessitura em que rezo minhas crenças
Teus arpejos são luzes pra meus ouvidos!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O Tesouro do Céu



No que você se dispõe comigo
Contando as vidas, na trilha da existência
A ciência dos céus
Os horizontes da vã espiritualidade?!

Menina encantada no firmamento,
O que posso eu fazer pra que tu me sejas um pedido?
E que se realize, sem que precises também deixar de ser sonho?!
Eu sempre contei estrelas, mundos e anos-luz de possibilidades
E nunca temi que em meus dedos nascessem inverdades

Meu mapa astral me levou a ti.
Dos confins do hemisfério sul, observo o cosmo!
Meu sertão lendário de poesias cadentes.

Eu um sumério a desbravar desejos sem limites
Um cariri a tragar mistérios, acredite!
Prevejo o futuro recifrando nossos mundos
Em canções que brotam do mais profundo âmago

Os que somos, o que fomos,
O que desenharemos nas nuvens e além?
Nas constelações?!
O que faremos pra nunca deixarmos de ser elementais?!

Na falta de gravidade, uma gravidez imprevista
Os olhos me saltando a vista
A dádiva mais sutil do universo
A rima mais pueril dos meus versos

Foi o que aprendi em tantos planos vencidos
Evoluindo em danças circulares ethereas
Minha alma que sempre foi tão séria
Hoje sorri cantando em lágrimas
Uma velha canção à capela

sábado, 19 de julho de 2008

Crença

Venho sobrevivendo
A cada ataque de teus distantes carinhos
O olhar, o cheiro, o sorriso...

Me desmantela essa tua coragem
Esse poder de me encarar descrente
Em qualquer forma de poesia impronunciável
Desnecessária recordação a rondar-me
Como o teu nome posto à mesa
As pernas em suas certezas
E as palavras indigestas
Ignorando desejos

Eu me percebo nessa farsa,
Nesse teatro de gestos indecisos
De mãos em mãos que não dançam coisa com coisa.

Como os que cantam,
O que preciso é ter uma certeza
Mesmo que incerta
A porta do teu peito
Ao menos entreaberta
O que preciso é acreditar em algo
Mesmo que inventado
O que preciso é acreditar na altivez dessa palavra
Mesmo mentida,
Nas estórias que me deram teus olhos de atriz

O que preciso é acreditar naquilo que sempre existiu.

E ironicamente, nunca inxistiu.
Sempre.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Praça de guerra


Foto: Junior Panela
Nesse cenário de mágicas batalhas
A cidade cresceu vorazmente
Engolindo minhas ânsias, e infância
As ingênuas aventuras da adolescência
Minhas dúvidas da fé, as críticas à Deus.
Cristãos, mouros e ateus
Lutando juntos pelos seus
Defendendo lembranças

Meu compromisso aqui era cantar, dançar!
Plantar flores
Semear esperanças
Nos jardins-saudade que cultivara
Dar poesia, sombra, e aconchego pra ignorância

Mas o que via, me entristecia!

Que minhas lágrimas ao menos regassem a terra!

O homem urbano-sertanejo, inumano, desencantado
Pisoteava, talvez, até sem saber
Os canteiros que fazíamos
Pra nos trazer alegria
Pra nos fazer sonhar
Pra nos fazer enxergar os reis, princesas e cavaleiros
Que cantavam o dia inteiro
Pela paz desse mundo prestes a guerrear!

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Solidões

Eu não resisto
A essa tua forma de falar cantando
Louvando o sol que anistia teus braços
Teus abraços de tardio retorno
Os beijos de criança em meu rosto
O teu olhar vaidoso
O perfume, o corpo

Deixa
Que eu te trago em tragos largos
Com o prazer e dor de um vício
Não me largue
Estou preso, mas, largo de amor
Como uma folha, uma flor ao sol ao vento
Teus olhos me translando
Tua luz me fazendo fotossíntese

Pra ti, algumas palavras, frases, versos
Rimas comuns pra um mundo complexo
Um torpor pra acompanhar tua fisiologia
E qualquer sonho que te traga aqui
Que nos dê simetria, ritmia
Equilíbrio e suspensão no céu
Gravidade pra sonhar e manter os pés no chão
Seguindo caminhos

Uma coisa é certa
O que plantarmos em nosso coração
Regado à paixão em suor e sangue
Um dia nascerá, rasgando o peito
E crescerá pelo mundo
Cumprindo o seu papel
Em nossa flora complexa e delicada.